Nascido clássico, ele foi o ápice de uma história que não dá sinais de encerramento
Por Fabiano Pereira | Fotos: Marco de Bari
Raríssimos são os ícones automobilísticos como o Porsche 911, que, mesmo renovados por completo, são projetados para se parecerem com os modelos originais, ou, caso do Chevrolet Corvette, para se manterem fiéis às ultimas gerações. O que dizer então de um esportivo lançado em 1954 e ainda em produção? Nascido clássico, o britânico Morgan 4/4 homenageava o estilo de roadster que os ingleses, italianos e alemães eternizaram nos anos 30. Talvez até por já ter sido criado sem compromisso com o presente, o esportivo abarcou os fãs nostálgicos daquela época tão renovadora quanto curta.
O primeiro Morgan surgiu em 1910. Era um estranho monoposto aberto de três rodas. Nesses 101 anos a produção nunca deixou de ser reduzida e artesanal. Em 1954, o 4/4 dava continuidade ao projeto do 4-4, modelo de quatro rodas surgido em 1936 e chamado “Four Four”. Identificado como Series Two, o 4/4 era uma evolução do Plus 4 de 1950. O radiador vinha escondido sobre a lataria, com a grade inclinada embutida, entre faróis que brotavam dos para-lamas. O motor Ford só durou um ano, trocado pelo do Triumph TR2, com 90 cv.
Com um V8 e 855 kg, ele passava dos 200 km/h
Em 1956, era a vez de o motor do TR3 levar a potência do Plus 4 a 100 cv. Carrocerias de alumínio melhoravam o desempenho em competições como as 24 Horas de Le Mans. Freios a disco de 11 polegadas e rodas raiadas vieram em 1957. A evolução do Morgan 4/4 prosseguiu em 1962, agora com motor Ford de 1,5 litro.
O Plus 8 foi apresentado no Salão de Londres de 1968, com um V8 Rover de tecnologia da Buick americana, a melhor solução para o fim da produção do motor Triumph, que chegou a ser substituído por um seis-em-linha que era longo demais para caber no novo Morgan.
Velocímetro ficava próximo ao passageiro
Com as portas recortadas e presas por linguetas, o espartano interior do Plus 8 1971 das fotos parece menor. Para entrar, coloca-se um pé primeiro, senta-se bem baixo e depois se traz a outra perna. Sem ajuste de inclinação do banco, mas com regulagem da distância dos pedais, a posição é confortável com bom espaço para cotovelos e ombros. Se o volante é pesado e gira pouco, o câmbio está à mão. A primeira marcha não é sincronizada.
Os pedais são leves, largos e bons para fazer um punta-tacco. Suave, o motor V8 de 160,5 cv permite sair em segunda e responde forte em qualquer marcha. Até 150 km/h o barulho e a turbulência não incomodam. “Meu boné geralmente voa a 110 km/h”, brinca seu dono. Enquanto os freios são moduláveis, a suspensão tem um curso limitado. O Plus 8 faz curvas com firmeza na estrada, apesar da sua tendência de sair um pouco de frente.
O estepe aparente fazia parte do charme
Com o tempo, a potência continuaria crescendo. Em 1990, um V8 3.9 de 190 cv passou a equipar o Plus 8. O V8 opcional 4.6 de 220 cv viria em 1997. A produção dessa versão durou até 2004, após 6 233 unidades. O projeto em si continua firme e forte, com motores de quatro e seis cilindros. Hoje é oferecido nas versões 4/4, Plus 4, Roadster e 4 Seater. Como sempre, a produção continua artesanal, igualzinho à época em que o desenho dos Morgan parecia atual.
RENOVAÇÃO
O Eva GT (foto) vem em 2012 para trazer o design da marca para o novo século. Não será o primeiro Morgan atualizado. O Plus 4 Plus (1964) era um cupê que não agradou os puristas: deu adeus após dois anos e 26 carros.
Motor: 8 cilindros em V de 3,5 litros
Potência: 160,5 cv
Câmbio: manual de 4 velocidades
Carroceria: roadster
Dimenssões: comprimento, 371 cm; largura, 146 cm; altura, 127 cm; entre-eixos, 249 cm
Peso: 855 kg
0 a 100 km/h: 6,6 segundos
Velocidade máxima: 202 km/h